Saúde da população afro-brasileira é tema de seminário no Dia Nacional da Consciência Negra
Fazer um diagnóstico para identificar a demanda de saúde da população afro-brasileira, respeitando suas especificidades, é um desafio aos profissionais do SUS. Esse tema foi tratado por trabalhadores da rede municipal de saúde e do Hospital Municipal Getúlio Vargas, durante o Seminário sobre a Saúde da População Negra, realizado em Sapucaia do Sul, nesta quinta (20), Dia Nacional da Consciência Negra.
A atividade foi uma promoção conjunta entre a Fundação Hospitalar Getúlio Vargas (FHGV) e a Diretoria de Políticas para Igualdade Racial, que integra a Secretaria de Direitos Humanos da Prefeitura de Sapucaia do Sul. O Seminário teve como palestrante, o chefe de Departamento Nacional de Auditoria do SUS/Ministério da Saúde, Stênio Rodrigues. Ele também é idealizador e fundador do Movimento de Promoção de Igualdade Racial do Grupo Hospitalar Conceição.
Na abertura, o diretor geral da FHGV, Juarez Verba, fez uma saudação inicial, destacando a importância de discutir a saúde da população negra, atuando para combater as desigualdades sociais. “O Hospital Municipal Getúlio Vargas atende 100% pelo SUS e tem a preocupação em oferecer saúde de qualidade a todos, respeitando as especificidades do conjunto da população”, disse.
Para contextualizar o debate, Stênio Rodrigues, destacou a necessidade de recuperar a história para entender as consequências da discriminação racial, que inviabilizaram o bem-estar social dos negros. “A escravização, o preconceito e a negação dos direitos impediu que os negros tivessem acesso ao trabalho, educação e saúde, ou seja, uma vida mais digna”, explicou. Ele comentou que as mulheres negras foram as primeiras trabalhadoras em saúde. “Elas conheciam as ervas, faziam partos e amamentavam seus filhos e dos senhores das fazendas, nas senzalas”, falou.
Stênio Rodrigues argumentou sobre a necessidade da rede pública de saúde elaborar um diagnóstico da população negra, reforçando o quesito raça/cor no atendimento do SUS, com o objetivo de identificar a demanda específica de saúde dos afro-brasileiros. “Sem dados específicos, temos dificuldades para oferecer tratamento específico para anemia falciforme, câncer de próstata, câncer de mama, câncer de colo uterino, diabetes e hipertensão, doenças que mais acometem a comunidade negra”, manifestou. “Para tratar desses casos com qualidade temos que levar em consideração o histórico familiar, a hereditariedade e as condições de vida dos negros.”
Outra preocupação em debate foi a falta de capacitação dos profissionais de saúde nas universidades sobre a temática racial. “A educação tem de ter um olhar para a questão negra. A atenção básica deve chegar às periferias, onde estão muitos afro-brasileiros. Por isso, é importante formar médicos para atender nos Programas de Saúde da Família (PSF) e formar mais médicos especialistas. O SUS oferece atendimento universal, mas não consegue acompanhar a demanda da população em geral, que está em constante crescimento”, ressaltou.
Para finalizar, Stênio abordou o racismo institucional e a importância das pessoas denunciarem o mau atendimento na saúde por discriminação racial. Como ativista racial, ele sugeriu a formação de uma Comissão de Saúde, com representação do Conselho Municipal de Saúde, profissionais da rede pública de saúde e comunidade para discutir as políticas de saúde no conjunto da população.
Também acompanharam o seminário, o diretor de Políticas para Igualdade Racial de Sapucaia do Sul, Luciano Oliveira, o vereador do Município, Edson Portilho, a presidente do Grupo Anastácia de São Leopoldo e integrante dos APNs do Brasil, Lourdes Concílio Machado e a coordenadora do Centro de Referência de Sapucaia do Sul, Márcia Fernandes. A atividade fez parte da Semana Municipal da Consciência Negra, que encerra no sábado.