Cultura e debate na Semana da Consciência Negra
Como forma de conscientizar os trabalhadores da Fundação Hospitalar Getúlio Vargas (FHGV), a Comissão Especial de Políticas de Promoção de Igualdade Racial (Ceppir) realizou uma série de eventos para refletir e debater assuntos em alinhamento com a Semana da Consciência Negra. De palestras até exposição de arte, as abordagens foram desenvolvidas por meio de diálogos com todos os funcionários, possibilitando a construção de novos olhares e percepções.
Para a presidente da Ceppir, Alcione Alves, a data de 20 de novembro é importante para reafirmar o compromisso da instituição com o combate ao racismo. “A programação da Semana, e até mesmo a decoração lúdica nos locais de trabalho, tem como objetivo conscientizar os trabalhadores sobre a contribuição da cultura negra e, também, dar visibilidade às reflexões atuais sobre combate ao racismo e a desigualdade social institucionais”, explica Alcione.
“Desde julho nós estamos fazendo um movimento com ações e palestras e eu vejo as pessoas se interessando cada vez mais pelos assuntos que abordamos”, conta Nathane da Silva Pinto, integrante da Ceppir. A técnica em enfermagem diz que a ideia é passar conhecimento para os negros da instituição e aos demais funcionários que quiserem aprender. “Existe um racismo estrutural que precisa ser conversado para efetivarmos mudanças e a educação rompe barreiras”, destaca ela.
Educação e saúde
A professora Marcia Victória Silveira conversou com os funcionários da FHGV sobre desigualdade étnico-racial dentro do conceito de educação social. Para ela, que trabalha com projetos de educação e representatividade feminina, a escola é a base para a mudança desse cenário, com consciência negra infantil, aprendendo a história de uma forma nova e mais correta. “Para pensar diferente, é necessário uma escola diferente. Letramento racial e uma educação antirracista são coisas primordiais e urgentes, pois induzem a identidade e a valorização dos negros, além de aprendizado para outras comunidades”, explica Márcia.
Ainda no intuito de educar para mudar, a médica Joseane de Oliveira Alvarez, especialista em saúde da família, falou sobre a necessidade de uma visão humanizada para o atendimento à população negra. De acordo com ela, o racismo causa a desvalorização dos pacientes e é responsável pelo adoecimento e, muitas vezes, a morte de pessoas negras.
“Hoje, estamos falando da assistência aos negros, mas poderíamos estar falando da população pobre em geral do nosso país, que não tem acesso ao mínimo. Como vamos dar uma receita toda escrita para alguém, sem perguntar antes se a pessoa sabe ler?”, questiona a médica. Para Joseane, palestras não vão mudar imediatamente o cenário dentro dos hospitais, mas é o primeiro passo para pensar novas formas de cuidado e abordagem da assistência à população vulnerável, visando entender o contexto no qual cada pessoa está inserida.
Em visita ao Getúlio Vargas, a estudante de Técnico em Enfermagem, Letícia Valente, de 22 anos, resolveu prestigiar a atividade e se disse mais motivada a mudar o cenário de negligência na área da saúde do país. “Muitas vezes, por uma paciente ser negra ou indígena, ganha esteriótipos de ter as ancas largas e que, por isso, conseguiria dar à luz por parto normal, não precisando de anestesia”, exemplifica. Para a estudante, a área médica ignora, muitas vezes, questões específicas de cada paciente e nega o atendimento necessário.
Inclusão na arte
Em uma das atividades, o HMGV integrou à sua rotina uma exposição de quadros com a temática ‘Diversos Tons’. Idealizada pelo artista Alejandro Ruíz Velasco, a mostra retratava mulheres negras reais, cada uma com características que as tornavam únicas. “Quando me mudei para o Brasil, nos anos 90, uma das coisas que me chamaram a atenção foi que as artes plásticas não retratavam o povo brasileiro, a figura negra não estava nos espaços que eu visitava”, pontua o artista.
Alejandro, que é formado em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, diz que a mulher negra é maior do que a figura que a sociedade criou em seu imaginário e procura, a partir dessa constatação, a inspiração para suas obras. De acordo com ele, ser representada através da arte faz com que aquelas pessoas sejam vistas e sintam-se importantes, combatendo a invisibilização social e promovendo ensino e reconhecimento em todas as áreas.
Texto e Fotos:Karolina Kraemer, orientada por Rogério Carbonera – MTB 7686 / Comunicação FHGV