Rodas de conversa instigam reflexão e debate sobre racismo
A importância de ampliar, conhecer e lidar com os tipos de racismo, além de provocar a conscientização sobre cotas raciais, motivaram uma rodada de conversas com os colaboradores da Fundação Hospitalar Getúlio Vargas em Sapucaia do Sul e Tramandaí no último mês. A iniciativa partiu da Comissão Especial de Políticas de Promoção de Igualdade Racial (Ceppir), que faz parte da instituição.
As conversas contaram com a participação de duas convidadas ligadas à luta racial: Graziela Oliveira Neto da Rosa, doutoranda da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e integrante do Movimento Negro Unificado; e Sanny Figueiredo, diretora do Departamento estadual de Igualdade Étnico Racial do governo do estado e vice-presidente do Conselho de Desenvolvimento e Participação da Comunidade Negra do Rio Grande do Sul.
A Comissão idealizou o evento pensando no papel da educação e do conhecimento para romper as barreiras do preconceito e desinformação. Entre os assuntos abordados, estava o papel das cotas raciais e a necessidade de se apostar em políticas afirmativas de forma consistente, entendendo que não se trata de privilegiar, mas garantir direitos iguais. “As cotas foram criadas para fazer com que os negros ocupem seus espaços com maiores oportunidades”, afirmou Alcione Alves, que preside a Comissão.
Manter e ampliar conquistas
Para Graziela, debates como esse são fundamentais e, diferente do que muitos chamam, não é mi-mi-mi. “Por vezes as pessoas, e instituições, não estão predispostas a discutir a real situação sobre a pauta racial. Essa desimportância reflete na falta de conhecimento. Uma sociedade que não valoriza sua história e memória, está fadada ao fracasso. Falar de racismo nos espaços que atuamos é essencial e traz ganhos para a instituição e a comunidade atendida”, justificou. A palestrante disse ainda que é extremamente necessário falar sobre a contribuição da população negra à construção do país, resgatando a verdadeira história.
Corroborando com o pensamento de Graziela, Sanny trouxe em sua fala a importância de, como ela coloca, “o óbvio precisar ser dito”. Ela explicou que espaços para reflexão e debate são importantes para que se entenda que todos possuem uma parcela racista, uma vez que estão dentro de um sistema que foi cimentado por esta visão. “Quando olhamos a forma como foram constituídas as leis, começamos a entender que tudo que acontece hoje reflete o que aconteceu lá atrás. Leis que facilitaram um processo legal de eugenia para a população negra”, completou.
Em seu discurso sobre a falha na legislação, Sanny citou a importância do movimento civil organizado, já que, segundo ela, é a participação social que permite a manutenção das políticas conquistadas. Já em um cenário de ambiente de saúde, ela salientou que os agentes públicos devem se conscientizar de que a pergunta da cor em que o usuário se autodeclara precisa ser algo normatizado e normalizado. “Muitas vezes, erros destes indicadores prejudicam a construção das políticas públicas”, argumentou.
Texto: Karolina Kraemer, orientada por Rogério Carbonera – MTB 7686 / Comunicação FHGV
Fotos: Divulgação FHGV