HMGV: 50 anos de saúde pública gratuita prestada à comunidade

 In Especiais, FHGV, Hospital Municipal Getúlio Vargas, Notícias

“Neste ano, estive internada no Hospital Municipal Getúlio Vargas (HMGV) com o meu filho para tratar de coronavírus. Eu e ele baixamos juntos e ficamos lado a lado. À noite, colocavam nossas camas bem juntinhas. Assim, fiquei mais calma porque pude cuidar dele. Agradeço todo o atendimento que recebemos. O Hospital está muito bem de estrutura e de cuidados com a limpeza e o atendimento das pessoas”, afirma a dona de casa Doraci Enedina Bica de 69 anos. A sapucaiense conta que já precisou outras vezes de internação no local, principalmente, para tratar de um dos seus filhos que teve coronavírus ao mesmo tempo que ela, possui Síndrome de Down e tem asma crônica. O depoimento de Doraci sintetiza a vocação do HMGV que completou 50 anos em 13 de novembro deste ano: assistência em saúde pública gratuita na sua totalidade.

Desde junho de 2012, com o financiamento do Estado do Rio Grande do Sul, o Hospital selou o compromisso de disponibilizar 100% de sua capacidade instalada ao Sistema Único de Saúde (SUS). O Hospital é administrado pela Fundação Hospitalar Getúlio Vargas (FHGV), desde 2010, quando passou de autarquia para fundação pública de direito privado. Nesse mesmo ano, o HMGV foi reconhecido entre os dez melhores hospitais públicos do Estado.

“O Hospital está muito bem de estrutura e de cuidados com a limpeza e o atendimento das pessoas”, afirma Doraci que se curou de coronavírus após internação no HMGV.


O surgimento do Hospital

Nesses 50 anos, os trabalhadores do Hospital superaram diversas fases e desafios, e hoje, a instituição está em condições de atender à comunidade de Sapucaia e arredores, inclusive com toda a estrutura que envolve o covid-19. Em 1970, o começo da instituição se deu com uma iniciativa da própria comunidade, motivada pela ausência de um atendimento de saúde mais próximo. Posterior a isso, aconteceu uma crise financeira, e o ex-prefeito Vilmar Ballin, em 2009, decretou que: “É declarada a existência de situação anormal caracterizada como estado de calamidade pública, em razão do deficiente atendimento ao direito fundamental à saúde em sentido amplo no Município, causado por falta de profissionais e saúde, condições técnicas, medicamentos, materiais e equipamentos para sua melhor prestação”.

O ex-secretário da Saúde José Wink recorda que o Hospital tinha uma receita do Financiamento da Média e Alta Complexidade (MAC) federal em torno de R$ 650 mil por mês. “Era um valor simbólico que não chegava nem a R$ 8 milhões por ano. O orçamento do Hospital que o Município disponibilizava era de R$ 30 milhões para 2009: um valor altíssimo diante do orçamento do Município de uns R$ 140 milhões. Isso comprometia 22% da receita orçamentária municipal. Então, era difícil para o próprio Prefeito fazer a gestão. Ou a gente mantinha o orçamento do HMGV e penalizava os outros investimentos na Secretaria da Saúde na atenção básica que tinha que ser ampliada na época, ou a gente começava a pensar em alguma solução”, explica o ex-secretário e presidente do Conselho Curador da FHGV de 2010 a 2016.

De acordo com Wink, em 2011, um convênio com o Estado de incentivos para o Hospital na ordem de R$ 3.850.000,00 mensais que representam cerca de R$ 47 milhões por ano e permitem suporte financeiro de autogestão à Fundação sem necessitar a partir dessa data de aporte financeiro da Prefeitura. “Isso criou condições para que a gente começasse a fazer discussão com o Estado para o cofinanciamento estadual que até então não existia, pois era somente o MAC federal irrisório. Assim, canalizaram-se mais recursos para a Secretaria da Saúde para investir e ampliar a atenção básica e para outros projetos que o Executivo tem que implementar. Esse recurso foi fundamental para criação de quadro de funcionários, realização de concursos e ampliação da oferta de serviços porque se pactuou no incentivo estadual a saúde mental, a linha cuidado de AVC, a emergência porta aberta 24h para Samu, o serviço de oftalmologia e outros serviços de referência assumidos com os incentivos com a pactuação com o Estado”, analisa.

A assistência

A assessora técnica da direção de Atenção à Saúde, Ana Paula Kleemann, começou a trabalhar no Hospital em tempos de maiores dificuldades. “Em abril de 2003, comecei via concurso público para o cargo de enfermagem. Logo que entrei em 1º de maio, todos os contratos deveriam ser encerrados conforme uma ação do Ministério Público do Trabalho. Os concursados tinham que iniciar de imediato e no primeiro fim de semana entrei no plantão. O Hospital era diferente, pequeno e não existia unidade de saúde mental, unidade de cuidados prolongados e unidade de cuidados intermediários”, recorda.

No cenário atual, Ana Paula aponta que a situação mudou e que a resolutividade dos casos dos pacientes complexos se destaca. “Hoje, atendemos pacientes gravíssimos na UTI sem perder em equipe e para equipamentos de hospitais privados. A nossa emergência é muito proativa e atende muitos casos sem contar na ampliação dos leitos, na diversidade de atendimento com saúde mental e na unidade intermediária de cuidados prolongados adulto que faz a interface entre a unidade de internação e a UTI, dando mais segurança à equipe assistencial que pode preparar o paciente de UTI com mais segurança para hora de ir para internação”, detalha.

A assessora de gestão da direção de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas, Jéssica Bianchessi, também tem recordações de como era no passado prestar assistência no Hospital. “Iniciei meu trabalho antes de o Hospital ser gerido pela Fundação. Comecei em 2009, no bloco cirúrgico na área assistencial que na época era autarquia. Somente passou a Fundação com lei, em 2010, com CNPJ e contratação de pessoal pela Fundação a partir de fevereiro de 2011. Quando cheguei, o Hospital estava muito sucateado: a emergência, o bloco cirúrgico, os leitos com falta de equipamentos, ou muito antigos, sem dar conta de uma assistência de qualidade”, conta a assessora.

Jéssica lembra que o espaço físico do bloco cirúrgico comportava cinco salas, porém, tinham somente duas em funcionamento porque não existiam equipamentos, cabos de anestesia, monitor e infraestrutura tecnológica para ampliar os serviços e dar conta para fazer a assistência necessária. Segundo ela, aos poucos, principalmente através de um convênio feito com o Ministério da Saúde, o Hospital começou a receber equipamentos, possibilitando a montagem de quatro salas no bloco cirúrgico. “Passamos a fazer quase três vezes mais cirurgias de quando comecei. A UTI, por exemplo, de dez leitos apenas quatro tinham equipamentos para funcionar. Com novos equipamentos, entrou em atividade os dez leitos e criou-se na emergência uma retaguarda para UTI, colocando leitos com respiradores e monitores multiparâmetros para dar suporte ao paciente para aguardar leito de UTI ou se estabilizar”, detalha.

Capacidade atual
Atualmente, o Hospital possui 175 leitos disponíveis, oferece atendimento em especialidades como clínica médica, traumatologia, cirurgia geral, neurologia, neurocirurgia, obstetrícia, saúde mental e intensivismo adulto. Com a chegada da pandemia, em março deste ano, o HMGV se preparou para atender a população com fluxos e protocolos em conformidade com o Ministério da Saúde e com a Secretaria Estadual da Saúde.

Referência para outros municípios

O HMGV realiza em média, aproximadamente, seis mil atendimentos por mês na emergência e 850 internações nas diversas especialidades, tornando-se referência local e regional no atendimento hospitalar com emergência porta aberta e sistema de acolhimento com classificação de risco. O HMGV é referência formal em saúde mental para cinco municípios do Estado e pioneiro na implantação da medicina hospitalar, sendo o primeiro hospital público do sul do país a adotar este modelo assistencial integrado à rede.

Em abril de 2013, o HMGV foi credenciado pelo Ministério da Saúde na Linha de Cuidado ao Paciente com Acidente Vascular Cerebral (AVC) que tem o objetivo de qualificar a assistência prestada a esses pacientes. O Hospital é referência para quatro municípios – Sapucaia, Esteio, Parobé e Taquara -, disponibilizando dez leitos e equipe completa para o atendimento integral aos usuários que necessitam desse cuidado.

Modelo Assistencial em Linhas de Cuidado

As linhas de cuidado estão diretamente associadas às demais instâncias de atendimento da rede de saúde. Esse modelo de assistência reorganiza os processos de trabalho, com base no atendimento integral e humanizado aos usuários do SUS. O desenho organizacional reflete uma estrutura de gestão horizontal, colegiada, integrada e participativa, com foco assistencial na produção do cuidado. O HMGV atua em três Linhas de Cuidado: Linha de Cuidado Mãe/Bebê e Criança, Linha de Cuidado Paciente Adulto e Linha de Cuidado Saúde Mental.

Recent Posts