Consciência Negra: debate reforça necessidade de políticas de igualdade em comissões de saúde
No Mês da Consciência Negra, a Fundação Hospitalar Getúlio Vargas (FHGV) tem intensificado as ações em suas unidades e fora delas que tenham como foco a reflexão em torno do racismo e das desigualdades raciais. No protagonismo dessas atividades está a Comissão Especial de Promoção da Igualdade Racial (Ceppir) criada há cerca de 3 anos. Na noite de ontem (26), trabalhadores da saúde da Fundação e de outras instituições debateram a respeito do tema políticas de igualdade nas comissões de saúde em live transmitida pelo Facebook da Roda de Niaras da rádio web Manawa.
Pela FHGV, o debatedor foi o vice-presidente da Ceppir, Jorge Senna, que abordou a atuação da Comissão, permitindo o repensar tanto do papel do trabalhador quanto do usuário negro, bem como da história e da saúde. Além disso, ele expôs que há o trabalho na Fundação de mostrar a luta e a conquista de negros e negras garantidos pelo Estatuto de Igualdade Racial diante das perdas de direitos históricos. “A cota não é para trabalhar o negro como um coitado, mas porque os fatos e a história não se negam. Não queremos pena, queremos espaço de fato. A gente escuta racismo de usuários e colegas que a todo tempo precisa ser desconstruído. Por isso, o nosso desafio na FHGV é fazer com que os colegas, que estão do nosso lado trabalhando, compreendam a nossa realidade”, afirmou.
Senna recordou que muitas mulheres negras foram e são violentadas porque muito da miscigenação no nordeste brasileiro foi fruto do estupro. Por fim, ele observou que existem hospitais com nomes de santos e santas ligados ao catolicismo, entretanto, disse que gostaria que ocorresse discussão inter-religiosa para que existissem instituições de saúde com nomes vinculados à religião de matriz africana. Senna pode debater no Roda de Niaras com a presidenta da Ceppir e da Comissão de Heteroidentificação do Grupo Hospitalar Conceição, Fernanda Vargas, e com a supervisora de logística e membro da Comissão de Aferição Presencial de Autodeclaração do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Andréia da Silva Ferreira. Cada uma, pode expor a situação dos trabalhos de suas comissões e opinar a respeito de outras questões que surgiram no debate.
Diretrizes
A FHGV conta com a Ceppir e com a Comissão de Direitos Humanos que tem como objetivo debater e promover políticas públicas que englobem todos os círculos de diversidades presentes na Fundação, melhorando o convívio, o trabalho dos funcionários e entendendo a necessidade individual. Em ambas, a atuação é sob o prisma das diretrizes da Política de Humanização do Sistema Único de Saúde (SUS). “A área de ensino da FHGV, responsável pelo apoio às comissões, promove de forma educativa o debate reflexivo e crítico sobre o racismo e as desigualdades raciais. Não só pela relevância do tema, mas também com base nas diretrizes da Política de Humanização do SUS, como universalidade, integralidade e equidade, sobretudo, porque, à revelia da diversidade cultural e da miscigenação presente no país, reflete em nossos serviços de saúde. Por isso, estamos comprometidos com o debate do racismo estrutural com foco, principalmente, na ideia de um atendimento igualitário, trazendo qualidade de trabalho e de atendimento ao nosso usuário”, destacou a responsável pelo Desenvolvimento de Pessoas, Ana Paula Souza.
Roda de Niaras
A “Roda de Niaras: um olhar sobre as mulheres e a negritude” completa em dezembro três meses e foi uma sugestão da idealizadora da rádio web Manawa, Beatriz Fagundes. Ela almejou que a rádio tivesse um programa apresentado por mulheres jornalistas negras: Simone Ramos, Clarissa Colares, Renata Lopes e Luciane Ferreira. No início do programa dessa quinta-feira, as apresentadoras retomaram discussões em torno do assassinato de João Alberto Freitas por seguranças de um hipermercado de Porto Alegre, às vésperas do 20 de Novembro, Dia da Consciência Negra. Em geral, as pautas se voltam para as mulheres negras e o combate ao racismo.
“Já tivemos pautas interessantes não muito abordadas na mídia como a violência obstétrica em mulheres negras, a invisibilidade na mídia, a autodeclaração sobre o que é ser mulher negra que ganha menos no mercado de trabalho, pois primeiro vem o homem branco e negro, depois a mulher negra. Estamos tendo muito engajamento de negros e não-negros que apoiam a luta. Outra pauta sempre essencial é o combate ao racismo e a valorização de uma educação antirracista com temas abordados da literatura infantil e os negros na literatura. Na educação, falamos onde estão os negros e as negras. Nos livros, será que tem a figura dos personagens negros e das lideranças negras? E as princesas? A Barbie preta tem os traços da loira, mas por que não há uma Barbie com todo o fenótipo da negra? A gente quer sempre valorizar a nossa cultura e beleza porque é isso o que importa de cada cultura”, avaliou Simone.