CDH oportuniza troca de experiências sobre mulheres e direitos humanos em debate na Fundação
A Comissão de Direitos Humanos (CDH) da Fundação Hospitalar Getúlio Vargas (FHGV) promoveu na manhã dessa segunda-feira (9) um debate sobre Mulheres e Direitos Humanos com especialistas experientes no atendimento de situações que envolvem essa temática e pesquisadoras em nível de mestrado e doutorado em torno do assunto. A atividade aconteceu no Hospital Municipal Getúlio Vargas em Sapucaia do Sul e reuniu equipes da Fundação em evento organizado por causa do Dia Internacional da Mulher.
A responsável pela Área de Desenvolvimento de Pessoas da FHGV Ana Paula Souza observou que a Fundação possui 58% das chefias ocupadas por mulheres. A atuante como membro da CDH Cláudia Campos explicou que a Comissão tem como prioridade desenvolver ações voltadas aos valores dos direitos humanos focadas tanto na vida pessoal quanto profissional. “Estamos trazendo nomes que estejam ligados aos objetivos da CDH para debater e proporcionar a troca de conhecimento”, afirmou.
O debate iniciou com a mestre em Ciências Criminais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Laura Gigante Albuquerque, desmistificando o que é o feminismo, um movimento por igualdade. Laura fez um breve resgate histórico a respeito do surgimento do Dia Internacional da Mulher, em 1917, a partir da manifestação organizada por tecelãs e costureiras na Rússia. No Brasil, ela recordou que em 1940, as mulheres tiveram o direito ao voto, e em 1960, puderam trabalhar com autorização dos homens. Entre as estatísticas citadas pela mestre, a de que metade das mulheres brasileiras são demitidas em até dois anos após o retorno da licença maternidade conforme pesquisa da Fundação Getúlio Vargas.
Durante sua exposição, Laura ressaltou que o Brasil ocupa o quinto lugar no ranking mundial de Feminicídio, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. Em número de casos de assassinatos de mulheres, o país fica atrás apenas de El Salvador, Colômbia, Guatemala e Rússia. “As mortes acontecem 50% por familiares e 30% por companheiros. A palavra feminismo ainda assusta muitos, porém, os dados mostram o porquê de termos que lutar, pois há desigualdade no mercado de trabalho. Outra questão refere-se à representatividade política brasileira das mulheres que ocorre com somente 9,6% dos assentos ocupados no Congresso Nacional. Mais um dado que chama a atenção é que o salário das mulheres é 23% menor em relação ao dos homens nas mesmas posições. E, quando se fala em mulher negra, a desigualdade é maior. É preciso debater e refletir acerca dessas inconformidades”, enfatizou.
Atendimento multidisciplinar
Na sequência do evento, a defensora pública do Estado do Rio Grande do Sul Mariana Py Muniz Capellari expôs o que é a violência e relatou a respeito da sua experiência junto ao Centro de Referência em Direitos Humanos da Defensoria. O local presta atendimento multidisciplinar, e Mariana, esclarece que além da violência contra a mulher existe a violência estatal que ocorre em situações ocasionadas pela violência policial, pelo sistema prisional e por toda a forma de discriminação, preconceitos, maus-tratos e abandonos, principalmente de idosos em instituição de longa permanência.
“O atendimento do Centro de Referência é focado em rede, com lideranças, movimentos sociais e através de diversas ações especializadas realizadas em conjunto entre psicólogos, assistentes sociais e assistência jurídica com escuta qualificada que proporciona o acolhimento e o empoderamento das mulheres. A violência é um fenômeno complexo que afeta outros setores da vida da pessoa”, complementou Mariana.
O encerramento do debate foi feito pela doutoranda em Direito Público na Universidade do Vale do Rio dos Sinos Simone Schuck da Silva. Ela abordou as diferenças existentes entre mulheres negras, trans, com deficiência e indígena e relatou a sua experiência enquanto atuou no Grupo G8-Generalizando – Direitos Sexuais e de Gênero – do Serviço de Assessoria Jurídica Universitária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Simone destacou em sua exposição o trabalho de acolhimento que prestou a mulheres e homens trans e ressaltou o papel dos serviços na conquista dos direitos humanos. “Quando se fala em direitos humanos, fala-se em oportunizar acessos iguais”, finalizou.