Protocolo de atendimento da FHGV vai normatizar a assistência às mulheres vítimas de violência
Nesta semana, aconteceu a primeira reunião do grupo de trabalho que vai definir um protocolo de atendimento às mulheres vítimas de violência para ser aplicado nas unidades da Fundação Hospitalar Getúlio Vargas (FHGV). A meta é prestar atendimento pelo viés de diretrizes que melhorem o acolhimento. Além disso, entre os objetivos constam a criação de fluxos apropriados de serviço, definição do registro junto aos órgãos de acompanhamento da temática, levantamento dos cuidados a serem observados nas abordagens e no atendimento clínico e capacitação da equipe.
A violência sofrida pela mulher, se ela não relatar, nem sempre pode ser identificada. Em outras situações, ainda que as agressões fiquem visíveis pelo corpo, a vítima não quer falar. Há poucos dias uma equipe do Hospital Municipal Getúlio Vargas (HMGV) atendeu uma gestante cheia de hematomas pelo corpo. A sensibilidade de uma enfermeira fez com que ela fosse conversar com a mãe da vítima para evitar que a mulher ficasse revivendo o martírio. Essa conduta da profissional integra a preocupação dos trabalhadores da FHGV em não promover a revitimização.
A psicóloga da Saúde do Trabalhador Priscila Jandrey Brasco preside o grupo e explica que a revitimização ocorre quando a mulher passa por um local e precisa repetir o ocorrido para diferentes profissionais. “No acolhimento, ela passa pela enfermeira e relata determinada situação com maior riqueza de detalhes porque fala pela primeira vez. Depois, o médico pergunta, fazendo com que as mulheres revivam e se constranjam ao exporem uma situação íntima de violência causada pelos próprios companheiros ou por alguém muito próximo a elas que, às vezes, é até quem as trouxe para o hospital”, frisa.
Protocolo
O protocolo de atendimento vinculado ao sistema de informação, que é o prontuário eletrônico, vai permitir que o profissional esteja munido das informações referentes à circunstância e minimizar a chance de a vítima ter que repetir tudo ao próximo profissional que lhe assistir. Priscila informa que o fluxo de atendimento envolverá a psicóloga e a assistente social do HMGV para fazer o acolhimento com equipes de enfermagem e médicos, centro obstétrico e pediatria tendo em vista que as mulheres violentadas circulam mais nesses locais.
“Hoje atende-se uma mulher em situação de violência no hospital como se fosse qualquer outro tipo de enfermidade. Caso ela esteja bem, volta para casa sem acolhimento e orientação a respeito da situação vivenciada, e se não tiver a queixa de violência, passa despercebida. Muitas vezes as mulheres vão para o hospital com os próprios agressores, o que é uma forma de coagi-la a não denunciar. Se a equipe não estiver capacitada para ter um olhar sensível em relação à violência contra a mulher, muitas voltam e não conseguem sair desse ciclo”, ressalta.
Ainda de acordo com a psicóloga, atualmente existe um centro de referência para a violência em Sapucaia do Sul. Segundo ela, os integrantes desse serviço serão convidados a participar das discussões do grupo da FHGV.
Registro
Priscila lembra que há uma normativa do Ministério da Saúde que estabelece que a cada situação de suspeita ou violência contra mulher, idoso, criança ou adolescente deve ser preenchida uma notificação compulsória que será inserida no Sistema de Informação de Agravos de Notificação. A partir disso, conseguem-se os dados de todo o país e traçam-se ações governamentais de prevenção e combate a qualquer tipo de violência. “Se não notifica e não se mostra que há a suspeita de violência ou o ato em si, não se constroem políticas públicas eficazes”, alerta.
O grupo de trabalho da FHGV possui profissionais da psicologia, da assistência social, da enfermagem, do direito e da direção administrativa e financeira. Conforme Priscila, assim que for organizado o protocolo e definidas as pessoas que atuarão no acolhimento nos primeiros atendimentos, vão ser feitas capacitações específicas aprofundadas, pois psicóloga e assistente social podem precisar de tema diferente de qualificação.