Dicas, mitos e verdades sobre a prevenção ao suicídio
Nesta terceira e última matéria da série sobre o Setembro Amarelo, que visa alertar a população para as formas de prevenção ao suicídio, destacamos algumas questões que podem ajudar os pais, amigos e pessoas próximas a entender melhor o universo de quem cogita tirar a própria vida. Para isso, pedimos a ajuda das psicólogas da FHGV Tatiane Severo e Alba Zacharias, responsáveis pelas Unidades de Internação de Saúde Mental dos polos de Sapucaia do Sul e Rio Pardo, respectivamente.
Confira matérias anteriores sobre o Setembro Amarelo
Mito ou verdade: As pessoas que falam em suicídio só o fazem para chamar a atenção e não pretendem, de fato, terminar com suas vidas.
Alba – As pessoas que tentam suicídio estão pedindo ajuda, pois para elas parece a única saída. Se não forem ajudadas, tentarão novamente. Mas como são sentimentos ambíguos, consideram a possibilidade de lutar para continuar vivendo. A vontade de viver aparece sempre, resistindo ao desejo de se autodestruir.
Tatiane – É um mito. A pessoa, quando fala sobre isso, faz um pedido de ajuda. Precisamos atentar a todos os sinais que a pessoa nos aponta, principalmente quando ela já consegue verbalizar. Dados apontam que 8 entre 10 pessoas que cometeram suicídio verbalizaram a intenção.
Uma mudança brusca e negativa, ou mesmo uma depressão, pode provocar uma atitude suicida?
Tatiane – Sim, situações de conflitos e sofrimentos são inerentes à existência humana, porém, cada um lida de forma diferente. A mesma situação pode ser considerada, para alguns, um sofrimento maior do que para outros. A maioria dos suicídios e das tentativas de suicídio é feita por pessoas inteligentes, temporariamente confusas, que exigem muito delas próprias, especialmente se estiverem em crise.
Alba – Sim, todos nós passamos por mudanças, mas algumas podem ser traumáticas quando não estamos preparados para elas. A partir da fragilização de uma pessoa por uma depressão ou outro problema psíquico, podem ocorrer dificuldades para encarar mudanças inesperadas, como perder um emprego importante, uma pessoa amada ou ainda perder alguém por doença. Somente 15% dos gravemente deprimidos vão se suicidar, mas a depressão severa continua sendo a maior causa de suicídio.
Os casos de reincidência são comuns nas tentativas de suicídio?
Alba – Sim, um em cada quatro casos tenta de novo no ano seguinte, e um em cada dez acaba conseguindo, segundo pesquisa do núcleo de epidemiologia psiquiátrica da USP.
Tatiane – Sim, tentativa de suicídio prévia é fator de risco em situações de avaliação quanto a risco de suicídio.
As taxas de suicídios aumentaram 30% nos últimos 10 anos entre adolescentes. Há alguma explicação para isso?
Tatiane – Sim, a adolescência, por si só, já é uma fase de conflito e questionamento constante das relações sociais, parentais, afetivas… Nossa sociedade vive uma realidade de constante cobrança e exigências de padrões cada vez mais rígidos e moralistas. Obedecer a ordem da sociedade, reviver seus conflitos e elaborar essas contradições coloca muitos adolescentes em situação de extremo sofrimento. É importante ressaltar que o comportamento suicida não quer “matar a vida” e sim “acabar com um sofrimento intenso, no qual a pessoa não consegue elaborar”.
Alba – Vários fatores levam os jovens a cometerem suicídio ou tentativa, como problemas familiares e abuso de drogas (entre elas o alcoolismo). O imediatismo e o consumismo fazem com que os adolescentes não desenvolvam tolerância à frustração, e por isso acabam por tentar suicídio.
O que fazer quando uma pessoa fala em tirar a própria vida?
Alba – Existem fatores de proteção para a pessoa, como, por exemplo, profissionais preparados para lidar com essas situações. Outro fator importante é espiritualidade, não no sentido de religião, e sim em crença, até ser ateu. Os familiares e profissionais da atenção básica devem ficar atentos para identificar sinais de alerta e encaminhar o paciente para um serviço especializado. Outra medida a ser tomada pelos familiares é conversar, ouvir, pois nem sempre é fácil se abrir com alguém, até porque a pessoa chega a esse ponto normalmente por se sentir solitária, sem confiar em ninguém.
Tatiane – A escuta não moralista e sem julgamentos é o primeiro passo para podermos acolher o sofrimento do outro. É importante buscar ajuda imediata de algum profissional de saúde, para que possa melhor avaliar o quadro.
Qual o procedimento quando, num hospital ou unidade de saúde, é identificado um usuário que tentou suicídio?
Tatiane – Retomo aqui a importância da escuta não moralista e sem julgamentos, assim proporcionando a criação de vínculo e melhora na avaliação da situação. Em casos mais graves, há a indicação de internação. Em casos em que a família consegue, minimamente, dar suporte, o paciente deve ficar monitorado 24h, até a cessação do risco. O apoio da família e amigos é importante nesse momento.
Alba – Se o paciente chega com o quadro clínico grave, ele primeiro é estabilizado na emergência e após vem para a unidade de saúde mental. Aqui é recebido pela equipe multidisciplinar, que toma providências para que ele seja monitorado o tempo todo, seja medicado e fique em condição confortável.
Confira endereços dos Centros de Atendimentos Psicossociais (CAPS) nas regiões em que a FHGV atua:
Sapucaia do Sul
CAPS Bem Estar: R. General Osório, esquina Guerreiro Lima – Fone 3451.6404.
Centro de Atenção Álcool e Outras Drogas / CAPS/AD Passarela: R. Alfredo Juliano, 560 – Primor – Fone 3474.4470.
CAPS i: R. São Luiz, 63 – Fone 3451.2441
Lajeado
CAPS: Rua Saldanha Marinho, 770 – Fone 3982.1125 ou 3982.1124
CAPS infantil: Rua Cel. Francisco Oscar Karnal, 452 – Fone 3982.1122 ou 3982.1123.
CAPS AD (álcool e drogas): Rua Santos Filho, 345 – Fone: 3982.1416
Rio Pardo
CAPSi (infantil): Rua Almirante Alexandrino,75 – Fone 3731.3746
CAPS 1(adulto): Av. dos Amaraes, 325 – Fone 3731-1630
São José do Norte
CAPS: Rua Alexandre Bigoes, 153 , Centro – Fone (53) 3238-1027
Tramandaí
CAPS: Rua Vergueiros, 234, Bairro Zona Nova – Fone3684 5224.
Capão da Canoa
CPAS: Rua 51, 70, Bairro Santa Luzia – Fone 3625 7877.
Osório
CAPS: Rua Santos Dumont, 480, Bairro Centro – Fones 3601.1441-3601.2644.
Santo Antônio da Patrulha
CAPS: Rua João Pedroso da Luz, 373, Bairro Várzea – Fone 3662 6772.
Torres
CAPS: Avenida do Riacho, 980, Bairro Igra – Fone 3626 3237.